sexta-feira, 7 de maio de 2010

Uma grande roda de chimarrão - artigo

Uma grande roda de chimarrão - Jornal Agora RS - 8/12/2008

Há momentos nos quais olho para o céu e observo o brilho das estrelas. Vejo a harmonia dos inúmeros pontos brilhantes com a noite escura e fico a pensar em alguns costumes típicos do Rio Grande do Sul, como o prosear tomando um bom chimarrão.

Penso que apesar de simples e informal, a roda de chimarrão traz grandes lições. Aprendemos a partilhar e quebramos preconceitos, afinal, na mesma cuia que bebe o patrão, bebe o peão; na que bebe o adulto, bebe a criança; os
brancos, os negros, orientais e indígenas em uma roda saboreiam do mesmo mate. Isso, sem dúvida, é um exemplo de que podemos conviver com as diferenças e enfrentar as desigualdades.

Precisamos levar esse exemplo para as instituições, sejam elas públicas ou privadas, porque a diversidade vista nas ruas não corresponde a que encontramos nas universidades, nos mais diversos setores do mercado de trabalho, no acesso à Justiça, entre outros.

O debate acerca das cotas nas universidades públicas já ganhou as mentes e os corações de 73 instituições públicas de Ensino Superior, assim como 1580 instituições particulares que adotam o Programa Universidade para Todos (ProUni) , todas com algum modelo de cota.

O PLC 180/2008, de autoria da deputada Nice Lobão (DEM-MA), estabelece que pelo menos 50% das vagas de instituições federais de Ensino Superior serão reservadas para os alunos oriundos de escolas públicas. Dentro desse percentual de vagas haverá reserva para estudantes negros e indígenas. Isso em conformidade com as populações negras e indígenas de cada estado. Também estão contemplados – com pelo menos 25% dessas vagas - alunos de famílias cuja renda per capita seja de até um salário mínimo e meio.

Esse é um projeto que busca unificar a diversidade do Brasil, tal como fazemos em nossas campeadas pelas coxilhas do Rio Grande.

Os estudantes, cotistas e não-cotistas, estão vivendo em harmonia nas instituições que adotaram cotas. As pesquisas mostram que aqueles que entraram pelo sistema de cotas tiram notas superiores ou iguais aos que entraram pelo sistema tradicional. Enfim, estamos caminhando para uma igualdade de direitos e de oportunidades.

Enfrentar o passado escravocrata, a quase inexistência de políticas públicas para os negros, o desperdício de talentos e a ausência de referenciais para as nossas crianças, é uma tarefa difícil. Mas que deve ser iniciada.

Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama quer rever as políticas afirmativas após 48 anos de implantação. No Brasil, segundo consta na lei de cotas das universidades, iremos rever o projeto em dez anos. Precisamos estar atentos para saber que esta é uma política transitória.

Assim como afirmei em meu livro: Pátria Somos Todos! A nossa participação na sociedade deve ser um eterno exercício de compreender o outro, de transpor os nossos desafios individuais para entender que o investimento no coletivo trará resultados para todos, sejam brancos, negros, orientais ou indígenas.

Devemos parar e refletir, tal como fazemos nos momentos que aguardamos a erva absorver a água, se é justo perpetuar as diferenças e não buscarmos as soluções possíveis, afinal, a luta por cotas não acaba com a luta pela melhoria da educação básica, mas sim a complementa.

No combate ao preconceito e à discriminação, gosto de repetir a frase de Nelson Mandela: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."

A busca da integração é a chave para construirmos uma verdadeira nação, pura, bonita, singela e fraterna como a nossa roda de chimarrão.

Senador Paulo Paim (PT/RS)

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